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segunda-feira, 11 de abril de 2011

Angola, Por que Somos Um País Atrasado?

Chamou-me a atenção uma observação feita pelo blog morrodamaianga: “Somos um país de engenheiros e de advogados”. Além disso, a televisão brasileira, A Globo, sexta-feira, dia 8, exibiu um programa sobre Singapura. Cidade-Estado, que há quarenta anos mesmo Angola não estando independente e a diferença é só de 5 anos era um país tão atrasado quanto o nosso. Isso despertou em mim um grande interesse. Em saber o que os nativos daquele país ou região andaram fazendo nesses últimos quarenta anos para que alcançassem o grau de desenvolvimento hoje conquistado.



Com isso me perguntei, será que nós, os angolanos, nosso atraso está dado só porque andamos nos declarando a guerra entre patriotas?

Ou outras causas devemos ter em conta? E não para que estas causas sejam vistas como objetivos de provocações. Mas para que ao se pensar nas mesmas se evite cometer os erros que até agora temos cometidos como conseqüência da persistência do “poder clarividente” que paira sobre a nação angolana.

Mesmo alegando-se de que os tempos de paz vivido pelos angolanos é ainda muito pouco para se observar algum tipo de progresso e que precisamos ter paciência com os homens do poder, já deu, sim, para notar ao longo desses nove anos de paz e da falsa democracia, os erros e as falhas cometidos por aqueles a quem o “povo” depositou a sua confiança nesse inicio de progresso e paz.


Esses erros passam por inúmeros atos, procedimentos e valores culturais arcaicos que políticos e intelectuais angolanos não conseguiram superar. Vamos aqui tentar mencionar alguns:

-O poder absoluto monopartidário nas mãos de um só homem e a impossibilidade de que este, na condição de líder, suas diretrizes devessem ser contestadas (mesmo quando muitas dessas diretrizes não passam pelo crivo do consenso social e a opinião de especialistas, em diferentes áreas, que, com certeza, em democracias de verdade, pela força da distribuição de responsabilidades deveriam ser escutados).

-A concentração de poder nas mãos de uma só entidade ou pessoa, torna o resto da sociedade subordinados dependentes dos desejos dos homens do poder. A incontestabilidade desses faz com que diretrizes, idéias e até projetos errados se assumem e se aceitam por toda sociedade ( e a nação inteira), como grandes projetos e idéias. “Grandes projetos” -quando existem-, idéias e leis nunca se expõem ao debate público, recaem sobre a cabeça dos súditos como sentências proféticas destinadas a satisfazerem mandamentos divinos. É isso que atiça o subconsciente de alguns subordinados, na pele de bajuladores, de que o chefe é um clarividente: que tudo sabe e tudo faz.


-Hábitos e vícios individuais herdados de uma cultura do passado com rastros coloniais se confundem com os interesses públicos e o que verdadeiramente deveria ser feito para que um país como nosso se desenvolvesse.

Um exemplo, a herança colonial sobre o bem estar de cada um de nós e da família, reflete-se nos gostos, nos desejos e na vocação de nossos dirigentes. Como diz o Morro da Maianga, eles não passam de advogados e engenheiros. Com a agravante de que exercem o que aprenderam – se exercem- quase sempre fora de suas profissões. Uma mania e sintomas que se refletem no resto da população, da sociedade e dos poucos intelectuais que um regime cheio de vícios e mau hábitos vai formando. E faltou aqui dizer que aquela herança colonial é das mais atrasadas, que levou ao próprio império português a ser considerado pelos historiadores o mais atrasado de toda a história da humanidade.

A razão e o bom senso, corroborados pelo rigor científico, diz: qualquer país que precise se desenvolver seriamente, precisa cultuar no seio de sua população o amor pelas ciências e o conhecimento ( conhecimento puro e básico). E nisso deve estar incluída todas as áreas do conhecimento humano. E a matemática como ciência pura e exata deve servir e ser levado em conta para medir e servir de índice desse desenvolvimento. Esta deve ser uma idéia que muito bem poderia servir de consciência para um Estado não corrupto e menos reacionário, que ame o seu povo e vê no mesmo o verdadeiro instrumento para se chegar a graus de desenvolvimento invejáveis.Isso não acontece em Angola, nunca aconteceu, assim não adianta só culpar a guerra pelo nosso atraso.


E, ainda, fazer o uso de outra forma de conhecimento importante e fundamental nas relações entre povos e nações. O conhecimento aplicado ou as ciências aplicadas, que na prática é a atividade humana que ajuda o ser humano a ser menos dependente da natureza, ou melhor, dominar a natureza em graus mais elevados. Nas relações entre outros povos e nações, as ciências aplicadas são a parte do conhecimento humano que evitaria que países como o nosso voltassem ou continuassem a ser colônias dos grande impérios ou as potências do passado.

O presente e o passado mostram que as grandes vítimas do colonialismo eram povos que na suas trajetória histórica, ou ignoravam o verdadeiro papel das ciências, ou simplesmente as puseram de lado, por vários motivos. O exemplo disso é que a Europa só conseguiu colonizar a África e o resto do mundo, porque durante séculos aqueles povos já dominavam as técnicas de navegação marítima, tinham em suas posses os canhões de fogos que aterrorizavam os reinados africanos.

A África hoje continua sendo a mais atrasada em todos os sentidos. No caso da África Subsariana é a única região do mundo que não produz conhecimento científico, mesmo quando muitos governos dessa região poderiam fazer mais para se evitar esse atraso.

Um país como Angola, que tem trinta e cinco anos de independência, dezesseis milhões de habitantes e atrasado, precisaria de formar entre quinhentos a mil matemáticos por ano com o grau de bacharel ou licenciatura e fazer com que os mesmo exercessem as suas profissões. Um país como Angola precisa diversificar a sua formação de quadros e evitar cair no chamado triângulo vicioso de formação de quadros, onde só o médico, o engenheiro e o advogado têm a consideração e são recepcionados pela sociedade e a família como o quadros que vai matar a fome dos dependentes deste ( a família). Velha herança colonial portuguesa que nossa sociedade pós-colonial não espantou e nem se livrou dela: a ridicularização dos homens do Morro da Maianga se justifica.

Justifica-se ainda quando se sabe que entre os nossos dirigentes, os profissionais de nível superior, que cuidam e compõem a máquina do Estado entre 95% à 98% ao longo desses trinta e cinco anos são profissionais que não saem dos limites daquele polígono. Ou seja, essa composição de profissionais da máquina do Estado – mesmo pela sua qualidade e quantidade- está longe de ser suficiente para promoverem uma cultura de incentivo e amor ao conhecimento dentro do próprio Estado e da Sociedade. Por dois grandes motivos:

-Um projeto de educação e profissionalização dos quadros que deveria ser massivo e ostensivo só ficou no discurso. Sem contar os que nunca se formaram, porque as oportunidades passaram longe, os que se formaram nunca foram aproveitados no sentido de trabalharem e prestarem grandes serviços à sociedade. O estímulo que nunca existiu a essa prestação e as inúmeras formas de corrupção que tornam a máquina estatal ineficiente fazem com que os profissionais – até os bons- se adaptem aos esquemas de corrupção que geralmente consistem em assumir cargos que deem todo tipo de vantagens pessoais, mas que geralmente não proporciona retribuição social. Nunca se une o útil ao agradável. É sempre o agradável em sacrifício do útil. A sociedade fica vendo lorotas e assimilando os maus exemplos dos ditos quadros ou profissionais formados que supostamente trazem e têm uma bagagem diferente do velho e do colonial que aí está e que só não foi enterrado, porque quem está em cima continua sendo um saudosista do passado –mesmo sendo ex-guerrilheiro.

-A elite, além da sua incapacidade de difundir cultura de qualidade e bons exemplos, é imediatista, oportunista, sem visão para enxergar o futuro, preconceituosa com o seu próprio povo e padecem de um crônico complexo de inferioridade. Isso tornará o país numa eterna bolsa de consumidores de produtos e serviços, e para não dizer já o difícil produto que é o conhecimento.

-Quem está no poder vê no consumo de um produto estrangeiro o ápice do prazer, obtido pelo destino que a vida lhe deu, ao estar no poder e ostentar o cargo que poucos cidadãos como ele poderiam tentar alcançar. Por que um Ministro, Secretário ou mesmo Presidente do Governo de Angola teria interesse em se esforçar hoje, que o país produzisse uma marca de vinho nacional, um produto lacticínio de boa qualidade, enfim? Quando sabe que pode consumir os melhores vinhos vindo da Europa, África do Sul ou do Chile, quando a sua adega é abastecida com os melhores produtos e como sendo os primeiros a desembarcarem no Porto de Luanda.

Além da guerra, são vários os motivos do nosso subdesenvolvimento. A prova disso é como alguns povos em pouco tempo e também passando por guerras tão fratricidas quanto a nossa, ou talvez pior, conseguem hoje surpreender o mundo com o que têm aportado à humanidade: riqueza, talento e sabedoria. Enquanto nós não conseguimos nem chegar à conclusão de qual é o verdadeiro papel dos homens público que estão à frente dos nossos destinos. Estes na sua condição de homens trogloditas até cozinheiros e seguranças importam de Portugal. Amanhã quando despertarem diante da civilização, o que vão importar?



Nelo de Carvalho
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