Regimes corruptos geram personagens como Quim Ribeiro e enredos onde não se enquadram as atividades honestas que lhe cabem a um Estado sério. Geram instituições corruptas como a Clínica Girassol, construída com dinheiro público e reconhecidamente pública, mas com a função falsa para beneficiar interesses privados e particulares.
Regimes corruptos fingem trabalhar, investigar e até ir atrás dos sujeitos que sustentam e promovem o sistema de corrupção. Quando na verdade, esses perseguidos, são os chamados laranjas, ou quanto mais aqueles, mesmo pertencentes ao um nível alto da pirâmide, que por um motivo andaram violando alguma regra ou pacto de sangue que estabelece a união entre a gang de delinqüentes ou a seita constituída por um bando de mafiosos.
Alguns dirigentes do Governo e do Estado Angola defendem a quatro ventos que a liberdade de imprensa em Angola é um fato. Uns até alegam o fato de que estamos numa época em que se pode criticar o Presidente da República, em alguns jornais privados, e ninguém vai preso ou é supostamente perseguido. A estes servidores públicos respondemos aos mesmos da seguinte forma: regimes democráticos que têm a imprensa livre como instrumento de informação e instrumento onde se podem publicar, denunciar e levar ao conhecimento da sociedade atos da administração pública, dão proteção legal, jurídica e institucional aos meios de comunicação de maior popularidade no país, região ou cidade onde os mesmos têm por seu ambiente de evolução e crescimento. O Semanário Angolense foi perseguido, chantageado economicamente, forçado a ceder como meio de comunicação que ia se tornando cada dia mais querido e popular. E tudo isso porque criticava o Camarada Presidente. Num regime democrático presidente caluniado vai aos tribunais provar sua inocência, não se faz de arrogante, todo poderoso, indiferente, na sua condição de intocável.
A imprensa privada angolana, já que vivemos num país sui generis, deveria sim receber atenção especial do Estado, mas não para ser punida, mas para que ela evolui-se no sentido de se exercer a verdadeira liberdade de imprensa. Podemos dizer que é da imprensa privada angolana, que nasce em Angola, pela primeira vez, o Jornalismo investigativo, coisa que o Jornal de Angola não tem e nem exerce ( a não ser aquele do ano de 1974 a 1975 em que a FNLA de Holdem Roberto foi acusada de canibalismo, de arrancar corações de crianças para servir de alimento). Hoje, essa prática de jornalismo está sendo sufocada ou é perseguida, descaracterizada ( por sorte sem êxito) como difamatória ou anti-MPLA, principalmente, quando a questão é sobre os atos e a vida do Presidente da República. Vida reconhecidamente pelo culto de personalidade, pelo suposto exercício de inteligência e clarividência que dizem ter, mas os grandes problemas do país como educação e saúde e outros por aí são subestimados, por exemplo, pela falta de seriedade que um homem de estado deveria estar engajado. O Campus da Universidade de Agostinho Neto até hoje não foi terminado, mas o CAN, Copa das Nações Africana, além de ser celebrado encima da maior das vergonhas foi um “êxito”. Vergonha por quê? Porque Luanda deve ser uma das cidades mais sujas do mundo que nem condição tem para receber turistas africanos, poucos e exigentes, mas que deveriam ser impressionados; o terrorismo, com êxito ( infelizmente), assustou Cabinda e os angolanos daquela província até ao Cunene, mostrou o que pode diante de um Estado enfraquecido, que só tem estrutura para dar proteção e cuidar do camarada presidente e sua família.
O Hospital Pediátrico de Luanda e qualquer um desta cidade, esta mais para necrotério, que recebe o doente (moribundo e morto) e assiste o mesmo até a sua morte. Não é a toa que quem tem dinheiro no país sai pela porta dos fundos para ir se tratar e se preciso morrer longe de tanta miséria e o cenário dantesto, retrato dos estabelecimentos de saúde nacional. Numa Angola livre e independente há trinta e cinco anos.
A prestação de serviços a nível nacional não orgulhesse nenhum cidadão nacional, além da saúde, a educação é uma merda, os transportes públicos em Luanda ou em qualquer cidade Capital de Província estão muito longe de funcionar de maneira civilizada e satisfatória. Os serviços de saneamentos básicos, praticamente, quer em Luanda, para a maioria da população como no interior, não existem e quando existem funcionam muito mal. Água e Luz quando chega é objeto de piada, regressa no mesmo momento da sua chegada, e só retorna semana ou até meses depois. É como se fossem alguma entidade maquiavélica e macabras que vêm espreitar a cara “feia” dos angolanos arrependem-se de terem vistos as mesmas e regressam logo.
Tudo isso no país de Quim Ribeiro, Maria Cremilda Luís de Lima e diante do olhar “clarividente” do camarada presidente.
Com relação ao Jornalismo Investigativo, matéria proibitiva para imprensa pública angolana, é instrumento necessário nas democráticas, onde todo mundo, sem exceção, até o presidente da república, seus parentes e filhos que vivem comprando bancos em Portugal, tem que prestar contas a nação. Muitas das negociatas feitas e tidas como obras de agentes privados sabemos que atrás das mesmas existem dinheiro público, trafico de influência e que nunca são feitas em condições normais. Num país civilizado e democrático, o Jornalismo investigativo pode servir de fonte de investigação criminal e policial, abrindo brechas para que criminosos, ladrões e mafiosos sejam desmascarados, perseguidos e até mesmo levados a justiça. Assim, jornalismo investigativo não espera provas aparecerem nas portas dos estabelecimentos do Jornal de Angola ou de qualquer outra publicação, é preciso, além de profissionalismo, compromisso social com o país e a nação. E acabar com a ideia de que investigados e corruptos podem ser qualquer um, menos aqueles que estão no topo da pirâmide.
Exageros? Não. Em 1974 e nas vésperas da independência, na época da guerra fria, quando o perigo vinha do Norte, Zairense, das tropas e dos mercenários do ditador Mobuto Sesseko, o MPLA fez um trabalho fantástico de jornalismo investigativo: a denúncia às tropas de Holdem Roberto. Que, justa ou injustamente, foram acusados de serem canibais e trazerem hábitos selvagens das matas do Congo ou das imensas florestas tropicais daquele país e assim de serem um exército de assassinos, lunáticos e viciados. De que a FNLA era um terror e mereceu toda propaganda de guerra desfavorável a sua posição eu sempre me simpatizei por ela e até hoje sou simpático a mesma, eu já mais faria um discurso defendendo a esses bandos de mercenários e traidores. Aquele trabalho de propaganda, difamatório ou não, foi fantástico, digamos mesmos que politicamente selou a vitória merecida do MPLA. Foi uma obra de publicidade e denuncia genial e arrasadora -talvez nunca vista em nenhuma outra latitude geográfica-, acho que ninguém na FNLA esperava tamanha vira volta. Eles até ( os da FNLA) poderiam pensar em que o MPLA seria capaz de qualquer coisa. E foi! Mas o tipo de instrumento e golpe usado, com certeza, os homens de Holdem Roberto não esperavam.
Pelo que recordo e minha visão atual, a FNLA saiu expulso de Luanda correndo. Eu nasci no Rangel e vive entre esse bairro, o Cazenga e a Terra Nova. Até hoje ainda consigo ver os soldados da FNLA correndo como se fossem bichos, humilhados pela vergonha, não pelo medo das bazucas e dos tiros de que os mesmo foram vítimas. Naquela época eu era um garoto de nove a dez anos e tenho certeza de que isso me divertia bastante, tanto pelo que eu mesmo chegava a presenciar quanto pelas notícias que chegavam através dos adultos e os jornais ( com essa idade eu lia muito bem e já sabia interpretar fatos jornalísticos).
Hoje o que impressiona é a ironia que existe atrás de tudo isso, pelo papel jogado pelo MPLA, partido no poder. Este partido, para o bem o para o mal, sugere que a corrupção não existe e que quando aparece é um mal que só existe na base da pirâmide social. Que toda denúncia contra os seus dirigentes, e dependendo de quem ele é, é difamatória, anti-MPLA, contra a segurança da nação, provas têm que ser apresentadas. Quando se sabe que o Estado angolano sobre o olhar “clarividente” do seu chefe não tem nem se quer um departamento ou um corpo para investigar a corrupção de maneira independente, por lei, com administração e orçamento independente e longe dos atos bajuladores ao camarada presidente e da sua família e seus companheiros e camaradas corruptos.
Nelo de Carvalho
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