O Presidente José Eduardo dos Santos disse-nos que “vivemos numa democracia nascente, viva e dinâmica”. Nós dissemos que essa democracia é falaciosa, obscurantista, protagonizada por gente cínica e presunçosa. Gente com uma visão de si mesmo egocêntrica que vê no ato de ceder o poder e o direito ao outro uma maldição de sua existência. O Presidente e seus assessores confundem legitimidade ganhada nas urnas pela obrigação, o direito e o dever de não se atropelar consensos sociais – um deles- o “Regime Presidencial” que assim se evocou nos últimos vinte anos e que sempre existiu. Mas que agora deveria ser constitucionalmente bem contrabalanceado com regras e normas que esta Nova Constituição não deveria omitir nem esquecer. Se aqueles que se deram o direito de promulgar esta Nova Constituição reconhecessem que agora o problema fundamental da Nova República é a corrupção.
Ignorar esta luta, ou seja, usar a própria Constituição para coibir a corrupção e facilitar o seu combate, é a prova de que quem está a frente da nação está no meio de tanta sujeira e em que o “Tolerância Zero” não passou de uma força de expressão. Uma força de expressão que provoca arrependimentos, outra maldição na vida de quem o pronunciou.
Diluir o poder concentrado, manifestado numa Constituição que dá poder excessivos aquele ou aqueles que ocupam os atuais cargos públicos e nos vícios arcaicos de governação e administração, é a melhor forma possível de manter a Paz e a Unidade Nacional, e de se assumirem como verdadeiros representantes, talvez únicos, deste país.
Chega de falácias de que o MPLA é o único partido que pode representar todos e unir todos, quando na verdade, fez-se uma Constituição abusando-se das circunstâncias históricas. A guerra protagonizada pelos terroristas da Unita, o odeio justificado a Jonas Savimbi e aos seus homens, fizeram com que as urnas eleitorais se enchessem de declaração de “amor” ao MPLA. Amor traduzido no desgaste que uma guerra produz, em que qualquer coisa vale a pena. Vale a pena até a desordem Administrativa e a desgovernação de que uma guerra que continue a queimar vidas humanas. Assim, não se pode confundir aquele amor com legitimidade absoluta, com o desrespeito a opinião e ao sentimento público: de que a corrupção está aí. É um mal menor diante da guerra, mas que deve ser combatido.
O MPLA exagera, faz uso abusivo e inadequado da legitimidade e do poder que tem. Faz uso inadequado até do temor natural que as pessoas têm da guerra. Como se esta pudesse justificar qualquer coisa: até a ocupação do cargo de Presidente da República, o maior cargo público do país, por um incompetente. Esperamos que o sucessor não se enquadre nesta escala. Nosso apoio ao próximo ocupante será incondicional, se ao menos, souber nos mostrar que esta preparado para lidar com todos os níveis da escala social que compõem a nossa nação. Se tentar provar que a geração de riquezas de um país não passa, simplesmente, no reconhecimento com indiferença e cinismos da existência de ricos, mas na existência da maioria da população exercendo o seu direito absoluto de ter bons hospitais, boas escolas e empregos que dignifiquem a vida das pessoas. E não a informalidade de uma economia que transforma a nação num país de gente atrasada, sem valores e espíritos próprios para evoluírem.
Dos Santos é o restos de um passado insuportável, em que seu papel poderia ser preservado com glorias. Se pelo menos tivesse a coragem de criar uma Constituição e Leis que permitissem o combate à corrupção, onde ele seria a “primeira vitima”, mas que evitassem que os urubus que hoje se encontram na oposição com nomes de “revolucionários”, contestando sua posição -mais de presidente do que de corrupto- chegassem ao poder num futuro.
Mas o covarde é o retrato típico do bandido sem honra, que descaradamente, alguns dos militantes do MPLA acreditam que o mesmo deve continuar a ser defendido para serrar o que eles chamam de fileiras. Estas fileiras que direta ou indiretamente no curso da nossa historia, nesses 35 (trinta e cinco ) anos de independência, nos levaram a vários conflitos, traduzidos em massacres daqueles que não se alistam nem concordam com os desejos de quem está no poder.
Nelo de Carvalho
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