Se numa coisa têm razão os economistas da Escola de Chicago, aquela turma encabeçada por Milton Friedman, é de que entre nações não existe solidariedade econômica, e que tudo deverá estar baseado nas regras de mercado. “Não existe almoço grátis ou benevolente”. Alguém sempre terá de pagar a conta no final de tudo.
A cooperação econômica entre angolanos e portugueses é a coisa mais falsa, mais mentirosa, mais sem cheia de graça e o maior disfarce que dois povos ou nações podem construir no andar dos tempos. Diante, principalmente, de uma das partes que sempre esteve e está em desvantagem: o cidadão angolano. Este enganado como sempre, no passado, pela sua condição de colonizado e escravo; hoje, na condição de quem deve sonhar eternamente e ouvir falsas justificações - de políticos que se especializaram em mentir-, como sujeito sem voz para questionar o que é cooperação de verdade e o que seria, de forma descarada e escancarada, saques, roubos contra um país que não aprendeu a se defender, fazendo o uso da cidadania, defender-se das as arbitrariedades que, sempre, põem em jogo –e em dúvidas- aquilo que foi conquistado com muito suor e sacrifício por todos: a independência de Angola.
Nós não acreditamos na cooperação entre angolanos e portugueses. Acreditamos, sim, numa cooperação ou pacto feito entre quadrilhas e seitas de um lado e do outro. Acreditamos, sim, na má fé dos dois lados. No lado dos peninsulares, na arrogância e na crença de que no lado deles sempre deve haver vantagens diante das circunstâncias socioeconômicas e culturais que nos diferenciam. Afinal, Angola não é Portugal e Portugal não é Angola, somos dois povos unidos pela maldição, a maldição do colonialismo, da escravidão e, agora, porque não dizer: a maldição do capitalismo e da corrupção.
Do lado dos angolanos, o que existe é uma turma de generais e políticos espertalhões, que governam um país em que o seu povo vê na corrupção a necessidade para se sobreviver diante de um país desorganizado. Cidadania e civismo é o que não se pode esperar por parte daqueles para que os resultados de tal cooperação recaem com benefício sobre a população angolana. Afinal, o povo é o verdadeiro dono desta nação de gente sofrida. Angola não é uma propriedade dos generais corruptos, bandidos, agora transformados em assaltantes dos direitos públicos, o direito que é de todos.
A Angola de hoje está tão distante dos angolanos e jogada aos mercenários comerciantes famintos que veem daquele lugar ( Portugal). Hoje acossado pela crise, a crise que é só deles e provocada pela gastança momentânea que caracteriza o mundo capitalista. Esta gastança momentânea que noutros tempos foi assimilada como o êxito de uma civilização consumista, que tem como política o oportunismo no seu maior auge e desempenho. Este oportunismo que muitas às vezes se manifestou com o racismo. Que consiste na maneira mais prática e na pior forma de se fazer política para se rejeitar o outro.
O racismo e todas as outras formas de complexo de superioridade que “agora se esfriou” com a crise, lá na península, hoje, vem como um pacote de cooperação, como um pires vazio, levantado de forma caquética e trêmula por quem noutro hora não cansava de anunciar sua superioridade econômica e zombar dos angolanos por conquistarem algo, que para muitos até hoje não deu fruto para nenhum aos seus cidadãos: a independência de Angola.
A verdade é uma: a crise dos porcos (piigs), que inclui Portugal e o resto da periferia na região do Euro, pode até se espalhar mundo a fora. E quê?! Só vai servir mesmo de variável usada pelos nossos corruptos angolanos para continuarem a justificarem seus atos de incompetência, ineficácia e talvez até para se perpetuarem no poder.
Dizer que a crise na Europa, lá no Velho Continente, afeta Angola é um sofisma transportado pelos maus espíritos, mesmo sendo verdade, sua carga de verossimilhança não passa de uma redundância praticada pela estupidez para justificar, sempre, o sofrimento de um povo; e o que há de pior nas relações entre os homens neste país: mentiras, horrores, desonestidade, falta de honra, de princípios – e no contexto angolano- as bajulações de sempre para se salvar o Camarada Presidente.
O que irrita -a irritação transformada em ódio e raiva- é que o MPLA e os seus militantes honestos ou corruptos sabem disso: nunca houve cooperação entre os homens daquelas terras e estas. E, se houve, a última sucumbiu, de maneira informal, com os escombros do muro de Berlim: eram os princípios que sustentaram aquele muro.
No capitalismo, o que pode existir é a infâmia, a burrice de um lado e a esperteza do outro; a servidão de um lado e o patronado do outro. Ou será que alguém tem dúvidas?!
Nelo de Carvalho
www.facebook.com
www.blogdonelodecarvalho.blogspot.com
nelo6@msn.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário