Caso BNA
O clamor da sociedade civil, a gritaria escancarada da imprensa privada e a fulminante opinião dos intelectuais desse país, que não aceitaram ser domados pelas delícias de suborno vinda do estado corrupto e do poder que diz governar esse país, em nome de todos, parece estar exercendo efeito. E estamos diante da prova de que a militância cívica pode ser mais forte e efetiva que qualquer tradicional militância partidária que para mover-se –fazer e deixar de fazer- tem que depender sempre do “grande líder”.
Mas é preciso não nos enganarmos e nos conformarmos com o pouco que há e existe por aí. O Caso BNA não é tudo o que existe sobre corrupção. BNA é cacusso num rio de águas turvas onde quem manda e pode são os grandes bagres. É preciso uma sindicância geral contra o Estado e o Governo Angolano nos últimos dez ou vinte anos de governação e administração.
O desafio de toda a sociedade angolana, do Estado, do governo e de quem está enfrente das instituições é tornar o Tolerância Zero um processo de prestação de contas retroativo no tempo e abrangente para todos os níveis e esferas. Será que existe coragem para isso? Se a resposta é sim. Então pode se dizer também que seria uma maneira de provar que a nova constituição não é um terno ou traje costurado para quem está em frente do Estado Angolano. Precisamos que a transparência de este ou qualquer processo seja nas duas direções: vertical e horizontal. E que os juízes e promotores desempenhem os seus papeis, se verdadeiramente são independentes.
O caso BNA pelo que já temos como conhecimento abrange simplesmente um nível horizontal, e por certo um dos mais baixos política e socialmente falando. A horizontalidade na apuração de responsabilidades de quem andou assaltando o erário está na própria quantidade das pessoas acusadas e o papel e posição que estes ocupam na administração pública. Quando se sabe que as cifras desviadas, pelos seus valores astronômicos, precisariam de um gesto de acenação de alguém que se encontra em níveis superiores.
O casoBNA não pode camuflar os tráficos de influências, estes sim que têm caráter vertical, principalmente de algumas personalidade noutro hora humildes pessoas onde seu patrimônio não passava de um salão de beleza e que hoje são proprietários ou donas de bancos. Ostentando até títulos monárquicos de princesa, numa nação onde tais personalidades perderam essa pose há quatro ou cinco séculos atrás como conseqüência da escravidão. O tráfico de influência, aquele que chega até em Lisboa, usando os títulos mencionados, e até o que existe por toda cidade de Luanda também deverão ser investigados. É esse tráfico de influência que faz com que a riqueza e as oportunidades que uma sociedade oferece aos seus cidadãos se acumulem só num lado da sociedade. Este mesmo tráfico permite que determinados grupos econômicos, hoje, além das facilidades e privilégios que recebem de todos, monopolizem certas áreas da economia nacional. Provocando ainda a oferta de produtos e serviços de má qualidade para os consumidores nacionais. O exemplo aqui pode ser tirado nas empresas de Telecomunicação Nacional ( em particular na área de telefonia celular) que todos nós sabemos têm serviços de qualidade péssimas devido ao monopólio dos serviços que elas ostentam.
O tráfico de influência um instrumento de relacionamento incutido pela burguesia angolana a toda sociedade é a maior causa de enriquecimento ilícito; que poderia ser investigado se contássemos com uma imprensa pública livre de verdade; que pudesse denunciar as relações mesquinhas nos bastidores onde só o ideal pequeno burguês tem vez. Não é função do mesmo jornal ir na contra-mão da opinião pública em nome de uma luta partidária onde quem é simplesmente defendido é a velha oligarquia dos combatentes e ex-guerrilheiros que aprenderam a pensar que o país inteiro deve ser submisso aos seus desejos “patrióticos”.
O Jornal de Angola que tanto clamava pelas provas que se deviam apresentar contra os corruptos terá agora matéria suficiente para falar um pouco mais de corrupção. E não ficar jogando areia nos olhos da população que é a verdadeira proprietária do mesmo jornal e a que merecia ser bem informada com relação aos fatos de incompetência e corrupção dessa administração.
Esperamos desta vez uma melhor postura não só do Jornal de Angola, mas dos diferentes setores da imprensa pública. Que a Nova Constituição inventada, por lei infraconstitucional, já deveria transformar os mesmos setores em autarquias. E não dependerem, o emprego de cada um de seus funcionários, do olhar “clarividente” de sua excelência o Senhor Presidente da República, chefe do executivo, que tudo pode e em tudo manda. Permitindo assim que o status quo: a corrupção, a incompetência, a mentira, as falsas promessas, o fingimento, a imperícia e a mediocridade continuem sendo protegidas por Pandorra. Ou o trio sacro-santo da informação propagandista que deveria estar ao serviço de um povo: TPA. RNA e Jornal de Angola. E não do material perecível que a história pôs de lado: os anos de propaganda esquerdista ou comunista que ajudaram a elevar o fervor revolucionário da nação e elevar de maneira triunfal o atual partido no poder no topo da conquista. E que hoje aquele trio que deveria desempenhar sua função na reconstrução e desenvolvimento da sociedade angolana, age precisamente ao contrário, encobrindo a sujeira e a imundice que só a turma dos heróis da independência sabem esconder.
Além do Tolerância Zero, precisamos de uma revolução da informação nesse país. Quem deve informar a nação é a lógica, o rigor, a vivência, a razão em vez da típica luta partidária; que hoje se transformou em atípica. Tudo uma estupidez de quem acha que os governados podem ser tratados como baratas.
Nelo de Carvalho
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sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010
O País das Aranhas XXXVII
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