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quarta-feira, 28 de abril de 2010

Uma Previsão Cabível

Sendo verdade ou não a retirada do empresário português, Américo Amorim, como sócio em alguns negócios de que faz parte o mesmo na tumultuosa economia angolana, onde as oportunidades reinam sempre para as mesmas pessoas –assim, evoca a canção de Dog Murras- é cabível pensar em algumas previsões desastrosas induzidas pela maneira de como se pretende ter o controle do poder em Angola. Esse poder sempre associado na busca de acumulo de capital e riqueza por grupos privilegiados pode ser a causa inevitável de futuros conflitos, quando se sabe perfeitamente que muito dos negócios existem e foram montados na base do trafico de influência. Onde as pessoas preferidas para serem proprietários dos mesmos ou estarem enfrente dos mesmos apareceram nesse mundo –o dos negócios- pela sorte que o destino lhes proporcionou por pertencerem à prole dos heróis vitalícios.


Aquele bilionário português é um homem experiente nos negócios. Assim, tem perfeita consciência do risco em que o seus negócios naquele país podem estar expostos aos inúmeros escândalos de corrupção que o tempo, mais cedo do que tarde, ajudará a desmantelar. Como todo empresário, que procura oportunidades e facilidades para ganhar dinheiro, este, ou estes, procura-se encostar-se em boas influências e assumir o mínimo de riscos.

Dizer que os bons negócios de Américo Amorim e muitos outros estão livre do tráfico de influência, instrumento que caracteriza a superveniência do empreendedorismo angolano, e o aparecimento de patrimônio e riqueza de alguns seres privilegiados, é ingenuidade que se aceita fazendo-se vista grossa. E é compreensível aceitarmos esse tipo de atitude quando numa época o que se desejava era atrair homens do nível empresarial de Américo, só fazendo-se boas amizades com o mesmo, e essa amizade não podia vir de qualquer pessoa. Sabe-se que Amorim teve recepção especial, uma ou várias vezes, na cidade alta. Uma maneira de se conquistar loby a favor do país, do governo e do Estado na Europa através desse empresário no mundo dos negócios. Afinal o tráfico de influência aqui pode ser visto no sentido inverso, benéfico para uma nação. Que homem de negócios teria coragem de investir num país recém saído de uma guerra com todas as infrastruturas destruídas e sem garantia de que a partir de uma data determinada as coisas iriam dar certo, sem mais guerras? Que não fosse alguém que tivesse familiaridade com a nossa cultura e até os nossos problemas?

Com sinceridade vimos sempre em Américo Amorim alguém bem-vindo na economia angolana, sem se importarmos com quem estabelecesse laços. Desde que esses laços não amarrassem os interesses do estado a interesses privados. Este como de qualquer um que tenha interesse em investir no país. E homens do nível do Américo Amorim não faltam mundo afora que gostariam de investir numa economia de pós-guerra e fazerem seus negócios, desde que bajular o Estado, o Governo ou até seus integrantes não fizessem parte dos seus planos, e em particular bajularem a prole privilegiada dos heróis que andaram expulsando o colonialismo.

Atrair empresários do nível daquele lusitano, mesmo quando acharem estranho a nossa cultura, é por sinal uma missão da diplomacia angolana, que deve e devia estar preparada para isso. Não é missão incumbida ao Presidente da República nem aos seus descendentes, que como cogumelos, apareceram de um dia para outro administrando e ostentando empresas e patrimônios, pondo em dúvida a transparência dos atos daquele mandatário no cargo que a nação lhe incumbiu há mais de trinta anos. É nesse contexto que defender e acreditar que o Presidente da República está livre dos maus negócios que caracteriza o submundo do lucro fácil e da ganância em detrimento dos interesses do Estado está muito difícil. Tornou-se quase impossível defender a posição de José Eduardo dos Santos como Presidente da República e empresário, coisa que ele falta vir ao público e reconhecer.

Assim, deve ser ruim e constrangedor a retirada de Américo Amorim e dos negócios que tem no país, ou até com a família do Presidente, dando a entender, aquele, que o quê está acontecendo é conseqüência da corrupção e da esculhambação que vitima o Estado.

É verdade que se pensarmos bem –estamos, agora, nos dirigindo ao homem das terras de Camões- um conflito entre sócios subscritos num negócio ou empresa nada tem a ver com o governo, Estado ou as leis desse país, pelo menos em teoria. Mas se a moda pega, como tem pegado em política em Angola, se não estás comigo, então te declaro a guerra até o fim; no mundo dos negócios, que afinal é o que interessa, não deve ser tão diferente.

Por outro lado, a sociedade civil européia e os seus políticos são, geralmente, mas sensíveis aos escândalos de corrupção. Esses escândalos vindo de um país como nosso, onde o ricaço lusitano esteja envolvido, constitui motivo de precaução para este, sem dúvidas já que ele está longe de ser um sujeito ingênuo.

Não constitui acaso esse um dos motivos que qualquer um dos nossos visitantes estrangeiros, do tamanho daquele empresário, tem sérias dúvidas para participar? É na necessidade de eliminar esse tipo de dúvidas que entra o papel fundamental do Estado. E essa segurança quando existir é porque, simultaneamente, existirá um instrumento que indique que a corrupção não ameaça a ordem imperante, as leis, as instituições, e o mais importante, seus negócios. E esse é o tipo de segurança que não se oferece ao cidadão invocando-se o espírito arrogante de sempre: “os acusadores que consigam as provas”. Diante do Estado imutável e cínico.

O combate à corrupção não é esperar simplesmente que os fatos surjam por força dos eventos. É também ir atrás dos mesmos, mesmo quando estes só têm razoável probabilidade de existência ou até de aparecerem.

Será que, entre os angolanos, fica difícil pensar nisso!? Ou só não se pensa nisso, porque existe má fé.

Nelo de Carvalho
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