Qualquer sociedade é o que é pelo que pode oferecer aos seus membros, desde os logros sociais, que, às vezes, se tornam a canção de propaganda de seus governos ou estados, até a bestialização de seus cidadãos incutidos e promovidos pela corrupção dá um tom no arco íris cultural da mesma. E fenômeno que pode ser ocultado para manter o estatu quo e a sobrevivência de um regime, diga-se: oportunista e corrupto.
Mas em Angola por superveniência dos fatos, às vezes, tão natural, não existe mais a necessidade de se ocultar que a corrupção existe. Dela se aceita que existe, sim. O que não se aceita é que falemos sobre ela. Se aceita como uma maneira de se interagir com as pessoas, ou seja, passou a ser um instrumento nas relações sociais e que por força de hábito passou a gerar uma cultura. A cultura da bestialização. Invocar a corrupção em um ambiente político, onde o estado e o governo angolano se fazem representar por alguns dos seus funcionários constitui sempre um ato de subversão ofensivo para estes, um atentado ao poder, contra as instituições existentes. A propósito das duas palavras, aquela, a bestialização, é um estado, igualmente, que caracteriza tais representantes e funcionários, na impossibilidade destes de reconhecerem suas imperfeições e atitudes, às vezes, comprovadamente suspeitas. E de reconhecerem que devem prestar contas.
E nesta cultura encontramos fatos interessantes: a dolarização da economia, o encarecimento nas relações sociais, a vaidade como um fenômeno de auto-estima para reafirmar nossa existência e, às vezes, para uns, uma maneira de se identificar como angolanos. E hoje, já, como pertencentes a uma classe social emergente e privilegiada.
A dolarização da economia vindo da cultura da burguesia nativa de querer substituir valores, tanto espirituais como materiais. Substituição que aqui se encaixa bem. Afinal, por que precisamos do Kwanza quando temos algo mais forte em valor monetário para representar todas nossas ambições e sonhos, e comprar tudo o que quisermos?
Nas relações sociais, em qualquer parte do mundo, relações entre ricos e pobres é sempre difícil. Porque é sempre uma relação que pode ter motivações políticas, culturais e sociais. Mas não é disso que queremos falar aqui. Queremos falar precisamente das relações inter-pessoais, onde o gênero, ou seja, “o conjunto de propriedades atribuídas social e culturalmente em relação ao sexo dos indivíduos”, sendo vítima da corrupção, tornou-se bestializado. Nossas mulheres são tidas, ao menos para os angolanos, as mais caras do mundo de serem conquistadas, e nem por isso estão entre as mais cultas e bonitas (socialmente desenvolvidas). São tidas como as mais difíceis nos quesitos a serem agradadas. Para estas o romantismo clássico, o tradicional e até mesmo civilizado, um buquê de orquídeas, não enche barriga, ou seja, não constitui demonstração de desejo e de uma alma apaixonada. São tidas como as mais interesseiras. Um internauta, no club-k, acusa os corruptos de encarecerem o ato de conquista, ou sedução, de um gênero para com o outro; do homem para a mulher! Sinceramente, ele me inspirou esse artigo.
Ser angolano então já não se diz, principalmente para aqueles que ostentam riqueza, não sei de aonde. Nossos compatriotas esquecem-se, que nem um botão ou alfinete nesse país produzimos. A educação é esta que temos. A saúde chega a ser pior que uma paraplégica, que quando tenta levantar-se cai, matando todas as esperanças de quem espera da mesma por algo. É uma desgraça!
Os dois substantivos, a fusão dos mesmos num ponto poder visto como desgraça! Fazem-nos cair em situações irrisórias, como, por exemplo, acreditar que Angola é o país da vez: o eldorado. Há quem já diz que somos o país do futuro, até parece ser uma maldição à Brasileira. Declarada há mais de 200 anos pelos descendentes da monarquia portuguesa que aqui chegaram fugindo de Napoleão Bonaparte ( até a covardia o povo brasileiro herdou), que num ufanismo tupiniquim, proclamaram esse país ( Brasil) como o país de todos e de um futuro melhor. Sabemos que hoje a nação carioca não saiu disso, promessas vindas da Casa Grande para agradar a Sanzala: até hoje, depois de 200 anos quase de independência, o Brasil continua sendo um país do futuro. As conseqüências desse futuro prometido que nunca chegou para a maioria da população todos nós soubemos: até a reforma agrária ficou por ser feita, até hoje, uma forma que a República Brasileira tem para se redimir com herança escravocrata. Transformou-se simplesmente, em épocas moderna, em mais um instrumento de luta contra o comunismo. Lutar contra a Reforma Agraria no Brasil de hoje constitui a expressão mais furiosa e selvagem de se ser anticomunista, antiesquerda e ter-se repugnância pelos pobres! Retrata a expressão do medo de uma burguesia capitalista que substituiu, no tempo, os senhores de engenho e o seu medo refletido na impotência de acabarem com a miséria que eles mesmo geram ao longo desses séculos.
Esperamos que a mesma praga não recaia sobre os Angolanos, que vivem de promessas e da fanfarronice desequilibrada de seus dirigentes, do engano e da mentira, e da doença que estes têm de sentirem-se arrogantes e prepotentes. E, o pior ainda, da bestialização e da corrupção destes, não declarada, mas assimilada como prática governamental na governança e na governabilidade duvidosa que o mesmo regime tem.
Um poder corrupto e delinqüente, que herdou técnicas para governar a nação dos tempos de partido único, só pode transformar a civilidade de uma nação em bestialização.
Nelo de Carvalho
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quarta-feira, 12 de maio de 2010
Bestialização e Corrupção
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