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sexta-feira, 21 de maio de 2010

Sermos o que devemos ser independente de qualquer avaliação!

Comparar para pejorar foi sempre uma arma colonial eficiente de submissão para uns e auto-estima para outros. Houve tempos que o nativo era discriminado por tudo: pelo que comia, pelas suas vestimentas, o seu perfume e até suas ambições. Se o colono usava tudo isso para manter um sistema escravocrata e colonial -conquistando êxito parcial-, a continuação desse mesmo sistema, o capitalismo, não faz uso de técnicas e instrumentos diferentes, quando queremos e desejamos nos equiparar as antigas metrópoles. E ai de quem renegue usar tais instrumentos como parâmetros para se integrar a um mundo chamado por “todos” de “civilizado”. Medidas que, seus formuladores, às vezes, nos dizem o quão parecidos e próximo somos e estamos dos mesmos. E o capitalismo mesmo com a miséria gerada tem se saído com êxito diante desses parâmetros de comparação.
A classe media “culta” e preocupada com a trajetória econômica da nação quintal em que vive pode  suspirar com preocupações diante de supostas avaliações, só de saber que nas mesmas está o destino do seu instável emprego e até bem estar. Essa mesma classe media que às vezes é convidada a votar, sendo tratada como um bando de títeres, num regime, que por conveniência considera-se democrático, nunca ninguém lhe pergunta sobre os destinos econômicos que o país deve alcançar: “pergunta a ser feita pelos os eleitores do PIIGS”. Esses eleitores “jurariam”, sim, que vivem numa sociedade democrática. E ponto final.

E para que duvidar? Mesmo quando unilateralmente e de maneira irresponsável temos grandes agências econômicas que podem dar a classificação tão pretendida de nossa economia num mundo “civilizado” em que pretendemos permanecer no mesmo, e se não, então elas também dirão o que fazer para que nos encaixemos nesse mundo. Imaginem se para os PIIGS funcionou ou funciona, por que quê para um país como Angola não deve funcionar? Mesmo sabendo que esse último país é tido como uns dos mais corruptos não faltarão boas avaliações dependendo de quem as dê: podem até vir de um bando de banqueiros delinqüentes dispostos a subornarem o sistema inteiro. Afinal, a ditadura destes pode ser mais forte e pôr de joelho qualquer uma outra, incluindo a esse regime ditatorial de corruptos convencidos dos seus atos.

Diante desses fatos –“o terno que eu disser para você usar é que vai te tornar mais ou menos parecido ao que eu desejo que você seja: aquele sabujo menos vira-lata que o resto da comunidade que aí está”- nossa burguesia, angolana, espelha-se no mundo moderno, ao menos acredita que é assim. Até parecem uma turma dos filhos e sobrinhos do Mobutu que jamais conheceram labuta alguma, coisa normal entre os mortais, mais que para estes faz parte até dos parâmetros estabelecidos para se igualarem aquele mundo. Tido às vezes como de exploradores, ladrões e banqueiros mafiosos que vivem das aplicações dos milhões de poupanças de cada um dos trabalhadores desse mundo.

Para um povo vindo da miséria extrema, miséria muito longe dos PIIGS, qualquer avaliação é chouriço bom para o vira-lata da lixeira. Mesmo que o chouriço contenha substâncias venenosas da Standard & Poor, Fitch, Moody ( essas são aquelas agências diabólicas do mundo das finanças que de uma maneira ditatorial vivem opinando em que lugar do mundo um certo milionário deve investir seu dinheiro) e até mesmo do FMI tida como uma instituição financeira reacionária, anti-pobre e anti-terceiro mundo.

Bem ao serviço do instrumento colonial contemporâneo, onde a opinião daquela turma pode ser encarada como um sermão papal. Contrariando esse instrumento propostas não faltam: Eis aí mais uma!

Sem querer nos tornarmos um crítico agudo e crônico e para tentarmos nos livrarmos dessa fama, a avaliação daquelas agências pode ser uma mais-valia para o mundo dos negócios, para aqueles que pretendem vir aqui, em Angola, ganhar muito dinheiro, que com certeza uma boa fração desse dinheiro, senão todo deverá regressar aos países de origem de seus investidores. Assim, um bom patrimônio que pudesse contribuir numa avaliação das melhores condições sociais de vida, além do combate a corrupção, coisa que a própria “tolerância zero” já declarou como um fracasso, se nos remetemos as “boas intenções” de seu autor; é de dar a todos o que é de todos. Fazer das riquezas da nação o degrau necessário e suficiente para que a mesma suba em qualquer uma dessas avaliações vinda de qualquer latitude.

Temos uma proposta que pode parecer ousada e atrevida no contexto angolano. Mas que é na verdade é uma inspiração vinda dos estudantes aqui na nação tupiniquim, que poderia ser aplicada ao contexto angolano, se partimos do princípio que existem boas intenções dos nossos políticos e lideranças em combater a corrupção e demonstrar interesses no desenvolvimento social do país;. Já diz um velho adágio “dê ao César o que é do César”. Então porque não darmos ao povo o que é do povo: Nós propomos que 70% dos recursos vindos do petróleo sejam todos destinados à educação e à saúde. Mas a ser feito, regulamentado e aprovado por uma lei. Não vivem nossos políticos demonstrando, trabalhando e manifestando boas intenções em nome do povo, dos angolanos? Eis aí uma boa intenção!

É com certeza com isso e de maneira digna que um dia poderemos ser bem avaliados!

Nelo de Carvalho
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