Eu queria tanto estar errado. Na verdade, queria tanto poder apoiar um suposto esforço de mudança. Mas quem começa com fraude, tem poucas chances de se redimir no meio do caminho.
Uma coisa que se tem como pergunta, quem iria dar respaldo a João Lourenço para mudar.
Um MPLA que chegou ao poder como chegou e se mantém como se mantém, mudar é contrariar tudo.
E contrariar tudo é contrariar o maior legado de JES, a corrupção. Mudar é negar a forma como se distribuiu riqueza até hoje nesse país, de uma forma bandida e promíscua.
A mudança que precisamos não é a mudança em termos políticos, mas mudança em termos de governança. E o que é governança? É a capacidade que o Estado tem de realizar e executar políticas públicas. Governança é saber administrar. E o problema do Estado Angolano e o Governo que temos aí desde 1979 é o de saber administrar, criar e executar políticas.
Governança é fazer chegar o produto, os serviços ou bens (públicos) naquele lugar onde mais se precisa. É o que todos aí em Angola chamam de o mais importante é resolver os problemas do Povo.
Por exemplo, o problema em Angola não é o de saber quantas pessoas precisam ou têm direito a ter água e luz em suas casas, e se devem ter. Até porque do ponto de vista de pretensão política aceita-se a ideia de que todos deveriam possuir esses bens em suas casas, ou bem próximo de si. O problema é a execução de tal pretensão. Um plano ou projeto que se tornasse real no papel esbarraria na incompetência dos gestores públicos que têm a missão de transformar tal projeto em realidade. E o gestor a que nos referimos não é o um simples administrador Municipal.
É o homem da pirâmide de cima que não aprendeu a separar o público do privado.
Os recursos públicos ou os ativos potenciais que deveriam ser explorados em benefício de toda sociedade, por incompetência e oportunismo, são mal explorados e administrados. Tudo isso porque a legislação é sempre violada, porque interesses individuais jogam mais forte que o dever de se fazer bem em prol da sociedade.
Para mudar precisaríamos mudar a cultura de se agir diante daquilo que é público, dos bens públicos, do direito público e da obrigação daquilo que é público. Acontece que está cultura não existe. O que existe é a cultura do MPLA, a cultura da corrupção, que consiste em começar a distribuir primeiro o que é de todos, entre os mais próximos. Basta ver as grandes empresas privadas em Angola como foram adquiridas.
Inicialmente eram empresas públicas em que, hoje, seus donos do dia para noite tornaram-se proprietários. Quem são esses donos? E como adquiriram?
O como e o quem consistiram em alienar o que é público a preço de bagatela, e sem nenhum tipo de licitação. As concessões ou permissões de serviços públicos, com grandes lucros, são como presentes dado aos filhos pelos país, do padrinho ao afilhado, do sogro ao genro, e por aí vai.
Por outro lado, o país atravessa uma crise econômica, talvez das piores desde 1975.
O petróleo e a crise Mundial de que tanto se fala são fumaças provocadas pela inépcia e a incapacidade. Porque na verdade a crise também é gerada por falta de investimentos.
Qualquer país no Mundo que cresce anualmente na ordem de 9 a 10%, mesmo sendo um país pobre como nosso em desenvolvimento, pode fazer destas cifras um verdadeiro ativo virtual de sua contabilidade pública. Mas para isso precisa ser um país sério em que as instituições e os cidadãos tenham hábitos de fazer valer as leis. Mais, precisamente, a combinação das cifras mencionadas e o combate transparente à corrupção são fatores catalisadores que atrairiam investimentos.
Só que esse não é o caso de Angola. Até antes da crise o crescimento econômico do país rondava naquelas cifras. E para muitos tido como um crescimento caótico de um planejamento questionável. Ou seja, era um crescimento, que se existiu, tinha como resultado a ousadia de aventureiros estrangeiros, que aproveitando-se do caos e da terra de ninguém que Angola se transformou, ganharam dinheiro mais pelas receitas do petróleo mal canalizadas e distribuídas do que por algo bem planificado que pudesse beneficiar o país.
Moral da história, hoje com a crise, a desordem que já existia, a corrupção permanente que se apoderou de tudo e de todos, a falta de transparência e de uma legislação coerente, quem é que se atreveria investir em Angola?
A resposta a essa última pergunta é: é um louco ou alguém que possivelmente esteja envolvido nos esquemas mafiosos daquela República.
A situação do país é tão complicada não só porque as receitas do petróleo diminuíram, mas porque a corrupção transformou Angola numa nação morta. Angola é uma nação difunda que todo mundo foge dela. E agora com as suspeitas de fraudes no último pleito eleitoral só confirma as suspeitas de quem só tinha dúvidas.
Todo Mundo se pergunta quem vai investir num país como Angola?
Por isso, mudar para João Lourenço -se é verdade que estará disposto a mudar- seria dar um golpe a tudo que temos aí.
Nelo de Carvalho
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