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O Cenário do Marcolino Moco

A falta de um modelo de imprensa credível à altura de nos revelar o que existe nos bastidores da política Angolana fez do personagem supramencionado um crítico mítico contra o governo angolano e o atual estado das coisas no nosso país. O ex-Primeiro Ministro tem provocado uma certa euforia e até mesmo ansiedade entre simpatizantes e adversários do regime com suas críticas suspeitosas, que deixam muito a desejar, pelo modo tímido e reservado, já que dá sempre a impressão que ainda tem algo ou muito a perder ( ou quem sabe a nos dizer). Tornando sua discrição um fenômeno poucas vezes visto e suas supostas “denuncias” nada confiável no meio da opinião pública e da sociedade civil. O mesmo passou a ser encarado como uma espécie de “dedo-duro” contra tudo o que existe aí: JES e a corrupção que se apoderou do Estado Angolano.



De um lado uns perguntam-se, quem é hoje Marcolino Moco, o que pretende? Ou, ainda, o que tem ele a nos dizer depois de não só estar no poder, mas, também, ser parte dele? Do outro lado, não faltam aqueles disposto a receber o mesmo de braços abertos, para que o mesmo possa ser usado como antítese do atual regime; qualquer ato, ataque, contra este é bem-vindo. Resumindo, simpatizantes e adversários, de todos os lados, a quem duvide de suas intenções políticas: o MPLA, os corruptos, temem; a UNITA e a oposição em geral não veem a hora de tirar grandes dividendos. Essa então, pelo fato do nosso personagem ter a origem Ovimbunda.



Convenhamos que a luta pelo poder justifica certas atitudes, estas são moduladas pelo grau de transparência com que os Atos Públicos são executados diante de toda uma sociedade. Se for por esta luta que se digladia Moco, até ai, a Pátria só tem agradecer. Além disso, como Jurista e ex-membro do governo que ocupou altos cargos, Moco se especializou em interpretar as trapalhadas de quem mais comete ilegalidades neste país: o executivo e o próprio Governo de que um dia ele já foi chefe. Para mim, constitui até hoje uma maneira civilizada de reivindicar do Estado angolano o respeito que este deve ter para com os cidadãos.


À medida que o tempo foi passando nos demos por conta que aquele militante do MPLA de alto escalão é um arquivo ambulante que tem muito a nos dizer. Por isto e outros motivos ( principalmente por sua antiga posição no poder) tornam o mesmo um formador de opinião interessante, quase incontestável, em que todos “nós” nos sentimos obrigados a ler seus artigos. Afinal, qualquer ex-primeiro ministro, ex-membro do bureau político e ex-membro do comitê central sabe melhor do que ninguém sobre a máfia que governa o nosso país.



Outra coisa que torna interessante o nosso político contestador, e isso lhe da uma certa legitimidade diante da militância da oposição encabeçado pelo Partido UNITA, é o fato de Marcolino Moco ser de etnia Ovimbundo. Do meu ponto de vista, em particular, nunca achei este atributo algo que pudesse lhe dar mais ou menos legitimidade ou algo que pudesse lhe posicionar melhor entre os críticos do governo. Só os tribalistas e os fundamentalistas kuachas veem nisso um trunfo no cenário da política angolana: sempre que um Ovimbundo se levanta contra os atos vindo de Luanda é interpretado como um ato de luta “contra o colonialismo” que Luanda protagoniza contra o resto do país, ou um ato de aproveitamento dos kimbundos contra o resto da nação. Por quê?


Como muitos, tenho tentado entender o espírito de Marcolino Moco: é de que tudo deve ser discutido. Ou seja, todos os males da nação angolana devem ser debatidos e se possível, e com toda certeza, que seus causadores sejam combatidos. É um pensamento acertado, só contestado pelos corruptos que estão no poder, que tudo negam e rejeitam discutir. E o que não faltam neles são mentiras para justificarem as desgraças do povo que eles dirigem ou fingem dirigir.



Os maiores males do nosso país são o racismo, o tribalismo, a corrupção e a infiltração da religião nos poderes da nação. Ou, ainda, a maneira como a Igreja (principalmente a Católica) encabeçada pelo Bispo de Angola e de São Tomé Príncipe têm namorado o poder público em Angola. Esta é a última prática revelada na imprensa e que mostra que os corruptos no poder estão jogando sujo para se perpetuarem no poder. E que foi uma das denúncias feitas por Marcolino e recheadas de insinuações tribais. Para mim, o perigo que ronda nossas cabeças está em tudo, tanto na relação de prostituição que existe entre a igreja e o Estado angolano, quanto nas supostas denuncias de regionalismo.



Com relação à igreja, mais uma vez fica demonstrado a dupla face desta instituição, sempre agindo de maneira reacionária e se posicionando do lado que mais lhe convém. E isso todos sabemos: sabe o MPLA, sabe JES e sabem os corruptos angolanos. Que na época da guerra a igreja flertava com Jonas Savimbi e toda a UNITA, durante os quinhentos anos do colonialismo português, a igreja ajudou a escravizar e a deportar os negros fora e dentro do continente. Também sabem as pessoas que o Cristianismo com ajuda da igreja católica protagonizou os maiores genocídios na história da humanidade. Se hoje em tempos de democracia burguesa e capitalista, ambiente propício para o desenvolvimento de todos os tipos de máfias, as pessoas acham que devem se alistar a igreja para conquistar votos em campanhas eleitorais ou tirar qualquer tipo de dividendo, então, podemos declarar que estas pessoas são anormais ao ponto de não se darem por conta que estão convivendo com os excrementos que de tempo em tempo devemos expulsar e nos livrar dos mesmos por necessidades biológica.



A Igreja Católica, o Cristianismo, podem até conviver entre nós, diante da impossibilidade de que o mesmo deveria desaparecer da fase da Terra, mas não merece a consideração do Estado Angolano e de todas as instituições sérias construída neste país. Só quem é corrupto, tribalista, delinqüente, racista, oportunista faz apologia ao Cristianismo e todas as suas igrejas geradas. Assim, a Eclesiástica, Rádio Católica de Angola, não pode querer ambicionar ter mais do que tem. E qualquer atitude do Estado Angolano, vinda de Luanda ou de qualquer parte do país, que ajude a impedir o avanço da mesma, não pode ser interpretada como um ato tribal ou um gesto de aproveitamento de quem está no poder. Ainda que assim pareça. Não concordo que os males que os kimbundos engolem por motivos políticos ou ideológicos devem ser engolidos por todos os outros povos ou etnias de Angola para se provar que não existe tribalismo. Ainda que estes males possam beneficiar os corruptos do MPLA.



O cenário da política angolana é um cenário macabro que está mais para tornar qualquer anjo em diabo do que um político em sincero e honesto; e este cenário é um polígono traçado por lados como o regionalismo, a corrupção, o roubo de nossas riquezas, a bajulação que embala o culto de personalidade e agora a igreja ( sempre diabólica e repugnante). O MPLA, depois de renunciar a tudo, deveria pelo menos ter como missão afastar esta dos atos Estatais e da política nacional. Senão o faz é porque, como já dissemos, está jogando sujo e de maneira desesperada.


O cenário para uma batalha com a participação da filha do Diabo ( a Igreja) está completa. Assim, precisamos nos convencer política, ideológica e estrategicamente que para combatermos esta ordem social angolana, cheio de vícios ( tribalismo, racismo e corrupção) devemo reconhecer pela força dos fatos que o MPLA é um patrimônio de todos angolanos de Cabinda ao Cunene; ou pelo menos daqueles que sonham com um Estado Democrático de Direito. Devemos mesmo reconhecer que nesta confusão sui generis outros já deixaram as suas marcas e se saíram vitoriosos: Viriato da Cruz, Agostinho Neto, Hoje Ya Henda, etc. Vivemos numa época em que a contribuição de cada um de nós é necessária para expulsarmos os corruptos do poder. A corrupção está bem identificada, tem nome e endereço, não é um mito e muito menos um sofisma.


É preciso não cairmos no jogo dos corruptos. Este jogo é o jogo da deserção ou de quem deserta: perde a força da legitimidade se não estiver dentro do MPLA, se não levantar as bandeiras deste partido e honrar sua história ou o seu passado.

Eles, os corruptos, fazem questão de abraçar o MPLA, porque sabem que é dentro deste partido que vão continuar a ganhar toda a legitimidade necessária de que eles precisam para se apresentar diante da nação como pessoas honestas, mesmo sendo o que são: delinqüentes e mafiosos.


O MPLA é o cenário ideal e propício onde todos devemos nos encontrar para combatermos todos os males que afligem a nação angolana. E este é o cenário que Marcolino Moco jamais deve abandonar. O contrário disso seria fazer o jogo que os corruptos desejam e abrir o espaço para o êxito de uma coligação que tem como símbolo aquele polígono já mencionado aqui no texto. É preciso aceitar a ideia comprovada de que todos os grandes quadros e dirigentes desse partido lutaram e construíram o MPLA pensando naquilo que já dissemos: o direito de nós angolanos termos o MPLA como um patrimônio nosso que nos uni em volta de uma nação, uma bandeira e um hino e, finalmente, um povo: o Povo Angolano.


Nelo de Carvalho
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