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quinta-feira, 6 de maio de 2010

A Dor do Pepétela

A tradição africana já diz: “os mais velhos devem ser respeitados”, principalmente, quando estes estão carregados de dores. E se a dor vem do Pepétela ela pode não ser, simplesmente, uma dor de gente propensa a sofrer pelo próximo; é, também, uma dor de estremecer um regime ou quem sabe um sistema que até “ontem” fingiu ser de todos; e hoje é a imagem de um só ser que tudo faz, tudo merece, o ser inquestionável, o ser que ganha em tudo e a todos. E ponha-se estremecer nisso. A dor de Pepétela é uma dor que pode gerar medo, medo e susto. Essa dor é uma acusação ao tudo que existe aí. É talvez o retrato de um sonho que não deu certo. Mas sonhar não é privilégio de Pepétela, um dos homens mais querido, noutro hora, de uma nação, em que sonhar e fazer não era proibido, nem questionável. O fracasso de Pepétela pode ser a derrota de Agostinho Neto, se alguém por aí conseguir imaginar Agostinho Neto derrotado.


Não basta dizer que o Kota, o ancião, está velho e devia, com jeito de resignação, voltar a ler tudo que escreveu e os seus livros. Dizer que ele está cego é querer convencer ao pobre angolano que deve se convencer com orgulho da vida que leva, da sua pobreza, das mentiras e da falsidade ideológica protagonizada por quem acha que o povo reclama de barriga cheia.

Nós somos subversivo, sim, indisciplinados, quem sabe até vende-pátria, porque tentamos fugir do inferno. O corajoso Pepétela, um homem que sabe amar a sua pátria, e que não abriu mão dela, a única coisa que hoje pode dizer de direito e com liberdade, sem punição, porque já está mesmo no inferno, é que a pátria onde mora é um inferno.

Homem de coragem esse Pepétela vir dizer a todos nós que vivemos no inferno, “como ele descobriu isso”? Mesmo ele sendo um homem talentoso e genial, temos certeza que isso não é de sua autoria: ele “plagiou” essa idéia, fantástica, extremamente maravilhosa, no meio de tanto sofrimento. Em que quem grita não merece nem ser escutado, porque não existem ouvidos para isso. Ainda assim é preciso reconhecer que ele foi além do esperado, em todos os sentidos. Faz-nos recordar aquela dor que sentimos constantemente, mais que por alguma razão e até mania, que só os humanos saberiam decifrar por alguns motivos, tentam esconder, talvez até na hora da morte.

Ele é tão corajoso que não esperou estar moribundo em seu leito, rodeado de netos e outros parentes, e confessar que viveu toda a sua vida num inferno, e que a partir de agora iria para uma melhor, lamentando mesmo pela existência daqueles que continuariam a viver, naquele lugar.

Pepétela como acadêmico, escritor, artista e intelectual está entre os que jamais poderão ser acusados de subversivo. Afinal ele está entre aqueles que se poderia dizer: “o MPLA em carne e osso”, o MPLA em pessoa. Pepétela, mais do que um homem, não necessariamente solitário no espírito e na alma, é o MPLA ditando uma sentencia contra si mesmo, confessando suas dores e os seus fracassos, é o MPLA aproximando-se naquilo que ele dizia saber fazer melhor do que ninguém: estar ao lado de seu povo. Hoje, o único que sabe fazer, ou melhor, dizer: “é sentir as dores desse povo”.

O Homem Pepétela é a prova de que a coragem não tem preço, é inegociável, ou você é, ou não é. Ele é a prova de que as mentiras do “outro lado” proliferam e existem e precisam ser desmascaradas. Ele é a prova de que um conflito existe e que não devemos ter medo de encarar e lutar em nome de transformarmos esse inferno num lugar melhor para todos.

Ele é a prova de que não devemos ter dúvidas da nossa existência, e que só devemos nos separar dela quando o objetivo é melhorar a mesma, desde que seja aqui na terra e se for em Angola melhor ainda. Essa separação não pode ser a aceitação e a resignação com aquilo que nos impuseram ou que nos têm feito acreditar que somos.

Nelo de Carvalho
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