Dizem que a verdadeira democracia começa quando um país tem coragem e valores para poder julgar o seu passado. Entre eles, julgar os abusos de poder, as arbitrariedades, as leis violadas e até mesmo o ditador que no passado infernizou a vida do povo e fez do poder público o lugar inadequado para satisfazer suas necessidades individualistas. Democracia de verdade é fazer do poder público, dos seus atos, algo supremo diante de todos os interesses que não convergem com aquele poder.
Para bem ou para mal, o MPLA mostrou ao longo desses trinta e cinco anos que não precisa de ideologia nenhuma para governar um país como Angola e se manter no poder. Não precisa nem mesmo provar se é um partido de esquerda ou de direta. Simplesmente precisa provar aos angolanos que é o MPLA, e para isso é só imitarmos e pormos em prática o que de melhor esse mundo nos oferece: e fazer valer os lemas que tanto esse partido, nas suas propagandas “difamatórias e de diabolização” aos outros, nos habituou. Precisa, sim, ter o hábito civilizado de cumprir aquilo que foi combinado no contrato democrático; precisa respeitar à dignidade humana e fazer com que o exercício da liberdade e da democracia seja uma prática e um fato.
Na minha humilde visão, tenho entendido que o MPLA renunciou todos os princípios ideológicos no último discurso ( talvez um dos últimos) que o saudoso Presidente Agostinho Neto fez antes de morrer em que no fim do mesmo dizia: “O mais importante é resolver os problemas do povo”.
Talvez este lema fosse uma síntese e recado àqueles que em vida iriam continuar em frente da nação e do país de que as ideologias, não importa qual delas fossem, não seriam tão importantes assim, no projeto de alcance de felicidade para todos os angolanos. E devo concordar com a intenção ou a pretensão do lema.
Além disso, todas as formas de ideologias que o MPLA tentou professar esses anos todos, nenhuma delas chegou a ser uma escola que forjassem militantes que pudessem dar continuação a um suposto projeto de nação. Tudo o que fizemos nesse país chamado de Angola é e foi sempre uma imitação vindo do Velho Continente, a Europa, ou também como alguns geógrafos refinados gostam de dizer: “A Península Euro-Asiática”.
Por certo, uma má e caótica imitação. Primeiro, foi o Comunismo ou ideal Marxista-Lenenista ( M-L), autêntica doutrina sociológica, tida como a única e a verdadeira Ciência da Sociedade Humana, que deu um curso diferente à historia da humanidade e ajudou a forjar a cultura e o atual pensamento contemporâneo da humanidade. O Marxismo-Lenenismo não só serviu de escola e forjou comunistas em todo mundo, mas promoveu revoluções. E com a evolução da Ciência no Século XIX e XX ajudou a livrar o homem do eterno obscurantismo medieval e do ceticismo Iluminista. Aquela doutrina, M-L, não põe o homem em vantagem paranóica e excepcional diante do Universo e da Sociedade, mas ao menos ajuda a livrar o mesmo do seu “natural” complexo de inferioridade a que sempre esteve exposto e o colocaram todas as falsas interpretações mentais e ideológicas: religiões e pseudo-filosofias.
O estrondo e as evidências do seus feitos, do M-L, permitiram que a África, de escrava, humilhada e colonizada, se tornasse independente, livre e quem sabe um dia democrática. Isso é indiscutível. Mesmo a suposta democracia burguesa – a que existe na prática- hoje declarada como o melhor dos regimes e mesmo sendo não perfeito, deve tudo àquele movimento revolucionário. Que deu um tom diferente na luta pelos direitos políticos, econômicos e sociais das classes mais oprimidas até mesmo nos regimes capitalistas tradicionalmente tidos como impérios e ex-colonizadores ( as conquistas conseguidas pelos trabalhadores e a sociedade em geral não foram oferecidas pela burguesa). Em síntese e em tese a vitória do M-L não consisti só no triunfo de revoluções que defendem a mesma ideologia, não é simplesmente a declaração da mesma como instrumento ideológico de grupo de classes ou partidos políticos que vêem na mesma o instrumento propulsor para se construir um mundo melhor. É também parte de uma cultura e forma moderna de se fazer política, encarar os problemas da vida, muitos deles assumidos de maneira deliberada e inconsciente, por necessidade de sobrevivência da nossa própria existência. O M-L já triunfa pelo simples fato de que a vida e o evoluir da sociedade humana segui uma trajetória prevista por ela – às vezes mesmo sem se saber ou fora do conhecimento da maioria dos seres “ mortais”-, o importante é reconhecermos, que como uma Ciência ela está interessada na verdade, que poderá ajudar e facilitar a construir a felicidade humana.
O MPLA como outros partidos ou movimentos adota o M-L como o vento que sopra em uma direção e que precisamos aproveitar o mesmo para seguirmos o destino pretendido. Errado aqueles que julgam ou pensam que foi um erro. Primeiro, porque é preciso entender que a missão do M-L pode ser visto ou encarada por etapas. Mesmo porque os êxitos de nenhuma sociedade ou civilização humana são alcançados de forma lineal e sem obstáculos – o mundo não teria graça se assim fosse. A falha e o erro está na falsidade ideológica dos homens ou militantes que nós últimos trinta anos estiveram em frente desse partido. Militância Comunista nesse partido é coisa que nunca se levou muito à sério, ao ponto de muitos –entre os mesmos- se ridicularizarem uns aos outros pelo suposto fingimento que uns adotaram numa época; para –por diferentes motivos- estarem bem com o regime imperante ou até com uma suposta chefia que devia corroborar seus atos de bons militantes.
Uma vez alguém me sentenciou, nos velhos tempos idos em que passei na Ilha da Juventude: “de que o militante comunista do MPLA é um boneco de fantasia diante dos verdadeiros comunistas desse mundo”. Verdade ou mentira os fatos estão aí. Já se disse por aí que ninguém tem obrigação de ser comunista. Mas a falsidade ideológica é um crime condenado em qualquer cultura.
A segunda e imperfeita imitação que temos copiado é a atual democracia –chamada por muitos, já, por “falsa Democracia”. Ela é tão falsa que o atual Presidente da República tem a coragem de se apresentar como “falso presidente” diante de uma platéia ou comício e reconhecer que a “Democracia não mata a fome de ninguém”. É falso o Presidente, porque não foi eleito por ninguém e ainda tem coragem de dizer que Democracia nenhuma mata a fome. Ele mesmo se dedurou!
Ora, bolas! Acaso os atos ilegais protagonizados por um Governo, Estado e Presidente corrupto conseguem matar a fome dos pobres e dos oprimidos desse país? Ninguém em sã consciência responderia de forma positiva essa pergunta, mesmo que a sua disposição estivessem ao seu favor aqueles atos totalmente ilegais, corruptos e viciados.
O problema em Angola, como em qualquer parte do mundo, não é imitar, senão imitar mal para tentar agradar milhões de pessoas enganadas, assustadas com o presente e o futuro que se debatem com ameaças de guerras ou de supostas instabilidades políticas e sociais. Os angolanos não precisam aprender de cor o bê-á-bá das teorias que desembarcaram em livros mal desfolhados de estudantes péssimos, vindo das diferentes capitais européias. Não que a informação não seja necessária ao nosso povo, mas desde que ela seja bem digerida, interpretada e sendo recepcionadas ou absorvidas para que se resolvam os verdadeiros problemas do Povo.
Que eu saiba, o MPLA tinha abandonado todas as teorias depois da caída do Murro de Berlim. Durante muito tempo ficamos sem saber se esse partido – que quase virou um fantasma na vida de todos os angolanos- que princípios ou direção ideológica seguia. Nos últimos vinte anos, o que importava era defender o MPLA, não importa em que buraco o mesmo se metia –talvez isso se devesse pelo fenômeno da guerra, em que tudo valia a pena para se evitar uma suposta vitória Kwacha. Valeu!
No período de Paz em que vivemos, o Partido se transfigurou, transformou-se num partido de mafiosos e malfeitores, onde todas as práticas de corrupção foram e são ocultadas até hoje. O Partido revelou a sua face mais podre; na verdade, desde os primeiro anos de independência isso já estava revelado. E esta podridão consistia em empurrar os falsos valores comunistas que eles ( os chefes ) diziam professar; empurrar à população ou aos subordinados, enquanto a cúpula tinha um estilo de vida à moda do Tio Patinhas ou o burguês capitalista zombando dos pobres. Ironia ou não! Nesse quesito o MPLA também venceu!
Tanto que agora temos as tchizés da vida, as isabeis milionárias, representando e encarnando o triunfo ou a vitoria de uma burguesia que escarnam repugnância e todas as formas de rejeição a quem é pobre, humilde e até mesmo militante do MPLA no sentido mais patriótico da palavra.
A vitória do MPLA, agora, não é só a vitória contra a UNITA, Jonas Savimbi e os ex-terroristas aposentados que no passado acompanharam este. É também, infelizmente, a vitória de quem se debate, na Angola de hoje, pela verdadeira democracia.
Verdade diga-se, por todas as vozes e em todas as direções, o MPLA é a pior falsa dentro da democracia Angolana. Entre os intelectuais, esse partido só ocupa duas possíveis posições, está entre o ceticismo e a descredibilidade. Proclamar uma suposta “Democracia Socialista” na sua trajetória ou nos seus objetivos é querer acreditar que a espécie humana tem sua origem no cavalo e não num primata evoluído como o homo sapiens. Com estes que estão aí no poder é bem possível que aquele cavalo, que pertence a espécie dos ungulados, continue seu processo de evolução sem obstáculos, mas até atingir formas superiores de vida que lhes caracterize como seres inteligente capazes de criar algo gera dúvidas a todos nós.
Nossa condição de ombudsman, informal, não reconhecido, sem a presunção intelectual dos mortais comuns ( eu estou entre esses mortais) não acredita na chamada Democracia Socialista se os itens do primeiro parágrafo não forem considerados como os problemas fundamentais da sociedade angolana a serem resolvidos à curto prazo.
A certeza é que oscilaremos entre o ridículo e o patético, sem nunca chegarmos na Democracia Socialista (DS).
Confesso que nós vinte últimos anos contamos com o MPLA, para que no mínimo, a Democracia Socialista fosse um verdadeiro projeto de nação. Todos os seres humanos, povos e nações vivem de um ideal, sonho ou uma meta. Aqui em Angola as coisas não devem ser diferentes.
Só falta agora que os ideólogos do MPLA nos digam em que consiste essa democracia –pelo menos no estilo angolano. Se a Constituição criada pelo partido vencedor, 81% nas últimas eleições –tendo poder para isso-, não reflete em nada esse projeto de nação.
De uma coisa temos certeza, ela, a DS, não recepciona o poder absoluto, corroborado pela bajulação, que o atual Executivo ostenta.
Nelo de Carvalho
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Um comentário:
Amigo Nelo!
É com grande prazer que encontrei este seu blogue através do amigo Florentino lá em Benguela! Você no Brasil, eu em Portugal lutando pela democracia, que tarda, lá em Angola. Conheça os meus espaços em:
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Um abraço.
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