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sábado, 16 de abril de 2011

Não Somos Crianças, Senhor Presidente José Eduardo dos Santos

Não basta fazer um discurso sentimentalista e vir ao público tentar desmentir o possível e o obvio. Até parece que o presidente fez um discurso onde a platéia era uma turma de infantes em idade pré-escolar. Estas sim acreditariam que o presidente de Angola não tem obrigação nenhuma de prestar contas ao Estado e a Sociedade. E diga-se aqui, prestar contas ao Estados e a Sociedade são duas coisas diferentes.



E estão erradas aquelas “crianças” que acham que o presidente, por ser Presidente, não tem obrigação de prestar contas, tanto a uma quanto ao outro ( Sociedade e Estado).

Usar um evento político para vir ao público desabafar sobre as acusações da opinião pública, que tanto o próprio Presidente da República fomentou, alimentou e alimenta, - ao contrário do que se pensa- prova que o presidente tem obrigação de prestar contas. E que aqueles que exigem esses atos do poder não são fantoches a serviços de forças reacionárias e estrangeiras. E prova que a vigilância anunciada pelo Presidente tem que vir de todas às partes. A vigilância, Senhor Presidente, não é aquela que até hoje se fez - e até se fazia nos tempos de Agostinho Neto-, a que dava e dá proteção a bandidos e falsários que estão no poder. Vigilância é vigiar aqueles que cuidam da coisa pública, do que é de todos.


Mais uma vez, como sempre foi o hábito, o discurso do presidente divide os angolanos – e não necessariamente quem milita fora do MPLA- entre aqueles que são amigos e inimigos; entre aqueles que merecem Angola e não merecem; entre quem deve falar para o povo e em nome do povo e quem não deve falar. É o velho truque de sempre se não estás com o mais alto mandatário, então serás lixo a ser varrido. Simplesmente serás um inimigo a ser vigiado! Agora, quem deve ser vigiado é quem combate a corrupção e não os corruptos! Além disso, todos nós podemos ser vigiados, menos o Presidente da República.

Eu tenho a impressão que depois de trinta anos no poder, o Senhor Presidente José Eduardo dos Santos, não entendeu o papel de Presidente da República no poder. É o papel do Presidente da República e não o seu papel na presidência. Estas duas coisas costumam ser confundidas pelos militantes do MPLA, e talvez até pelo próprio Presidente. Esse papel é um papel que deveria ser definido por lei – e está! Além de político, é um papel que não agüenta a falsidade ideológica, o sentimentalismo político do líder populista e herói de todos, que resistiu a caída do Muro de Berlim. Esse papel não é o discurso breve, prometedor, mitológico, esperançoso e finalmente enganador do Papai Noel ( o Pai Natal) que se faz para aquelas crianças, depois de se sumir do cenário durante muito tempo. Já que estamos diante de um líder que só surge diante da imprensa para fazer declarações calculistas e ainda assim, geralmente, decepcionantes. E por último esse papel não é o papel de um pai para com os seus filhos. O Senhor, pelo que sabemos, não tem dezesseis milhões de filhos.


Por isso, tem obrigação moral e legal de prestar contas a todos os angolanos, a toda sociedade e instruídas pelas normas estabelecidas pelo Estado. Já sei que legalmente a Constituição e as leis infraconstitucionais feita pelo Senhor e para o Senhor livraram o Senhor de prestar contas. Mas é aí onde está o erro. A vitória do MPLA, 81% contra todas as cifras, não dava direito a que o senhor tivesse mais direito e poder absoluto que o resto dos mortais.

Os intelectuais que votaram no MPLA e fizeram campanha para que esse partido ganhasse, a principio acreditaram no bom líder que supostamente o Senhor deveria ser: simples, humilde, menos ambicioso, menos doente pelo poder, transparente nos seus atos e que no final de tudo estaria preparado a dar exemplos democráticos. E não vir a público dizer que quem critica os excessos de poder e privilégios daqueles que ostentam o mesmo é que são ambiciosos e oportunistas. E com certeza são!

E quê!? Quem o Senhor conhece ( assessores, famílias & companinha), que convive, trabalha e está ao lado do Senhor, que não é oportunista?! Desde quando ser oportunista em Angola, no MPLA, na função pública é proibido.?! A imoralidade não se combate necessariamente e obrigatoriamente com leis. Leis servem para combater o que é ilegal e proteger aquilo que é público ou então privado.

Nós não estamos interessados na moral de quem quer que seja, nem da dos militantes do MPLA, que sempre pus em dúvida, e muito menos na do Senhor. Nós - quem quer que seja, que esteja longe do poder, sendo oportunistas ou não- estamos interessados nas leis; nas leis que a turma do MPLA entregou ao próprio Estado. Aqui me fica difícil dizer, “que o Povo entregou ao próprio Estado”.


Nós –acusados de oportunistas- só queremos que se cumpram as normas, as leis e os procedimentos que dão razão a que todos possamos pensar, sim, que a Democracia existe e não é uma falsa. E que não está só aí para beneficiar quem está ao lado do Senhor, ou mais precisamente, quem te rodeia.

É o cumprimento das regras Democráticas que evitará a propagação do ódio, do rancor, da difamação, dos atos desproporcional vindo de todas as partes. Evitará até as acusações estúpidas de traição contra a pátria e de anti-patriotismo. Sempre promovida de um lado para vitimar até quem tem boa intenção na construção do processo democrático, mesmo quando não tem porque concordar com quem está em situação privilegiada, no caso, ostentando o poder.

Assim, não basta vir ao público, entre camaradas, vir dizer que não tem 20 bilhões de dólares em bancos estrangeiros. É preciso usar e criar procedimentos civilizados e democráticos – e por em posse do próprio Estado- para provar os Atos, entre eles a prestação de Contas, que o Presidente da República nunca fez.

E chega de pensar e fazer acreditar àquela turma de crianças, que o Senhor Presidente é o próprio Estado.


Nelo de Carvalho
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